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Meditação Shi

A meditação Meditação estabilizadora (páli: samatha, sânscrito: shamatha, chinês: chih, japonês: shi, tibetano: shine/ zhi nas) shi acalma o espírito e concentra a atenção; estimula os sentimentos positivos e alarga as nossas perspectivas.

 

Este tipo de meditação é a preparação indispensável para as técnicas de vipassana, pois sem esta base a emergência do tipo de cognição, que a meditação tem por objectivo estimular, é quase impossível.

 

O nosso estado de consciência habitual é demasiado disperso e dividido, obscurecido por emoções negativas, e as suas perspectivas são demasiado limitadas para que possamos ver a realidade como ela é.O nosso grau de consciência habitual pode ser comparado à luz difusa de uma lanterna de má qualidade com as pilhas fracas.

 

Não ilumina quase nada na escuridão. O trabalho da meditação samatha é concentrar a luz num único foco e recarregar as pilhas para que possamos começar a ver melhor. Para usarmos uma analogia mais tradicional, diremos que o nosso estado mental habitual pode ser comparado a água turbulenta e enlameada, com demasiadas partículas em suspensão para deixar passar a luz. 

A meditação shi/samatha acalma a turbulência do espírito e faz com que o lodo assente, de modo a que a água se torne transparente, luminosa e cristalina.A maior parte das técnicas de meditação  shi /samatha utilizam um objecto de concentração que pode ser a própria respiração, um disco colorido, a chama de uma vela, um mantra ou uma emoção positiva como a bondade. Dos objectos citados a respiração é provavelmente o mais utilizado para concentrarmos a atenção. 

 

Esta prática – por vezes chamada a "respiração consciente" – foi descrita detalhadamente pelo Buda nos primeiros escritos budistas e é usada, sob diferentes formas, em praticamente todas as escolas do budismo. Uma outra prática de shi/samatha bastante comum é o "desenvolvimento da bondade" para consigo mesmo e para com os outros, ou seja a utilização deste sentimento como objecto de meditação.Estas duas técnicas meditativas oferecem-nos meios directos para trabalharmos sobre nós mesmos no sentido de cultivarmos duas qualidades essenciais ao desenvolvimento espiritual: a vigilância e as qualidades de coração.

 

A respiração consciente permite-nos desenvolver um nível de atenção vigilante que raramente conhecemos na nossa vida de todos os dias, e para algumas pessoas chega a ser quase uma revelação descobrirem que podem estar tão atentos. Se estivermos a tentar manter a vigilância como parte da nossa prática de ética, com o tempo, o tipo de atenção que desenvolvemos durante a meditação vai infiltrar-se nos nossos estados de espírito e trazer mais claridade e mais espaço à nossa vida, bem como uma liberdade nova para agirmos construtivamente.A prática do "desenvolvimento da bondade" oferece-nos um meio para trabalharmos directamente sobre as emoções de modo a incrementarmos o sentido de dignidade interior e o afecto pelos outros.

 

Muitos principiantes nesta prática ficam surpreendidos por sentirem emoções tão intensas e tão calorosas. E aqui também, se os efeitos da meditação forem reforçados pela prática da ética, este tipo de sentimentos rapidamente se infiltra na nossa vida de todos os dias, onde têm um efeito quase mágico nas nossas relações com os outros e, por extensão, na vida em geral.

Todas as técnicas de shi/samatha têm por objectivo induzir um estado de "concentração num só ponto", no qual todas as tendências do nosso ser se fundem numa consciência única, serena e luminosa. Se a nossa vida obedecer a uma ética, e se estivermos rodeados por condições que favoreçam o contentamento e as emoções positivas, à medida que meditamos, a tagarelice mental incessante do nosso espírito é progressivamente substituída por uma serenidade silenciosa e subtil.

 

Os conflitos internos começam a dissolver-se os nossos lados nevrótico e obsessivos são substituídos por uma perspectiva mais lata e mais objectiva.

 

Ao entrarmos numa meditação mais profunda, poderemos experimentar sentimentos de amor e alegria que parecem surgir das nossas profundezas e cuja intensidade pode ser tal que nos dêem arrepios. Podemos ser completamente invadidos por um tal sentimento de ternura que o coração e a mente se fundem numa faculdade única que vê tudo com uma claridade muito maior. Certos meditantes mais experientes ou mais dotados podem mergulhar ainda mais fundo, em estados de inspiração completamente envolventes, nos quais as fronteiras habituais entre o eu o resto do mundo começam e dissolver-se.

 

Podem mesmo manifestar-se certos poderes ditos "sobrenaturais", tais como a capacidade de exercer um efeito positivo sobre o espírito alheio.

 

E isto parece muito atraente mas, como é óbvio, a meditação nem sempre se passa assim. A maior parte das pessoas também têm momentos em que a meditação é um rodopio de desejos, ódios ou conflitos. Nessas alturas meditar é um trabalho árduo. Mas a meditação é útil mesmo quando o nosso espírito está agitado pois permite-nos controlar progressivamente esses estados de espírito negativos, durante a sessão de meditação e no resto da nossa vida.Embora a meditação shi/samatha seja uma preparação para a prática de kan/vipassana  (Meditação analítica em páli: vipassana, sânscrito: vipashyana, chinês kuan, japonês kan, tibetano: lamt'hong/ lhag mthong) ou de "cognição", deveria ser óbvio, pelo que foi dito, que não se trata de um mero e aborrecido exercício preliminar, algo que temos de ultrapassar o mais depressa possível para podermos chegar "ao que é importante".

 

Mesmo que não existisse meditação kan/vipassana, valeria a pena praticar samatha. O facto de praticar samatha, mesmo quando é muito difícil, aumenta a capacidade de modificar os nossos estados de espírito e faz-nos sentir mais calmos, mais equilibrados e mais positivos. Nos melhores momentos, é profundamente agradável e pode ter efeitos poderosos sobre a nossa maneira de viver dando-lhe uma perspectiva  mais clara, mais luminosa e mais vasta.

Fonte: União Budista Portuguesa

©2013 by Zazen Proudly made by Carlos Leal                                                                                                                              カルロス ・ リール

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